domingo, 21 de novembro de 2010

#2 e #27 - 30 Dias de Hellenismos - História e Comunidade


A questão que coloco a debater é a seguinte: como construir uma tradição sem um percurso histórico? É possível? Qual a posição e os problemas do reconstrucionismo helênico nesse movimento de volta às antigas práticas religiosas ?

O que observo é que nos últimos anos o movimento neopagão vem se subdividindo numa série de organizações, separadas muitas vezes por apenas questões de afinidade na liderança, e que costumeiramente se chama "tradição"... e essas são inúmeras. Mas o que é uma tradição? 

Reconheço uma tradição como um conjunto de práticas sociais executadas por uma comunidade e que tem como objetivo a perpetuação de certas práticas ou idéias sociaios que são importantes para esse grupo, sendo essas mesmas práticas, herdadas de outros membros mais antigos da comunidade. No entanto, para que essa tradição possa se estabelecer  é fundamental o tempo, ou mais precisamente o 'longo tempo', que permite que essa determinada comunidade possa construir e legitimar essa tradição. 

É esse o elemento fundamental das religiões pagãs, porém também um dos seus grandes problemas. Como um dado grupo que tem muitas vezes pouco menos de década de existência pode legitimar-se como tradição? Como e quais os elementos que definem essa tradição e a diferencia das demais ? 

Não tenho resposta para essas perguntas, mas como questionador que sou, acredito que sejam estas perguntas que qualquer adepto de uma religião pagã contemporânea deve fazer-se para contribuir com a legitimidade e reconhecimento de sua orientação religiosa como algo sério. Religião não remete unicamente à práticas cultuais, mas essencialmente a uma vivência dessa religiosidade; religião é antes de tudo experiência do sagrado compartilhado, vida em comunidade, independente das fronteiras geográficas. O que caracteriza uma prática cultual no contexto religioso é uma relação de pertinência e reconhecimento que esta estabelece em relação a algo superior que se partilha com uma comunidade. Não existe religião sem comunidade; isso seria apenas uma crença pessoal.

Mas qual a relação do reconstrucionismo com essa necessidade de ancestralidade, de tradição? Sem dúvida a mesma que a das demais religões pagãs, porém, como religião étnica que é, temos um legado histórico, especialmente o Hellenismos que é religião de um povo que tem um impacto profundo sobre a vida ocidental. Porém não estamos isentos das preocupações de qualquer outro grupo religioso, mas temos este problema num nível diferenciado: enquanto as expressões mais novas do movimento pagão procuram construir sua identidade religiosa com base em práticas que lhe são convenientes e necessárias, o esforço do Hellenismos é    o de dar continuidade a uma tradição em certa medida interrompida. Em certa medida, isso é fácil, acontece que o problema é maior; vivemos num mundo diferente. Aos moldes do Pierre Menard de Borges, nosso problema não é ser politeísta helênico reconstrucionista nos tempos de politeísmo helênico, mas ser politeísta helênico reconstrucionista nos dias de hoje. 

Como reconectar nossa visão do mundo com um mundo que hoje é sensivelmente diferente, apesar de nas suas bases similares à Grécia Antiga ?

Não bastasse ainda esse problema, coloco mais uma questão: toda comunidade requer uma organização, como reconhecer a legitimidade de sacerdotes e sacerdotisas que se perpetuam pelo meio neopagão sem qualquer instrução necessária, baseados apenas em leituras, ou pior, intuições pessoais? Que impactos provocaria isso sobre uma comunidade pagã? Pode-se falar numa comunidade pagã ?

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