Segundo o blogger uma das postagens mais populares do ta-Hiera é justamente um texto que escrevi há alguns anos sobre as danças folclóricas gregas. Apesar de fazerem parte do conjunto de tradições populares, boa parte daquelas danças estão relacionada a uma concepção mais moderna da dança. Assim, proponho aqui uma leitura e apresentação das danças mais antigas. O texto seguinte é a tradução de um texto escrito Michel Lehanas, traduzido e editado por mim e apresenta algumas dessas danças que se perderam ou foram sendo atualizadas desde a antiguidade até a atualidade em outras formas de dança. Basta lembrar por exemplo as semelhanças entre o Hassapikos e o Geranos, ambas danças com um forte caráter marcial. Mas vamos à leitura!
As danças dos tempos antigos eram categorizadas como danças de guerra ou
danças de paz, enquanto as danças mais tardias e próximas ao nosso tempo eram
divididas em: danças teatrais, cultuais e religiosas, marciais, danças do
Symposium – o banquete ritual –, danças de luto, entre outras. Cada tipo de apresentação
– peças trágicas, cômicas ou satíricas – tinham suas danças características,
algumas sérias e solenes, e outras com mímicas indecentes com adereços fálicos.
No campo militar as danças eram importantes, e tinham uma ênfase que não se
observa mais hoje em dia. Ainda assim, esse não é o ponto que nos interessa. Algumas
das danças citadas nos textos antigos são as seguintes.
As danças marciais com armadura são geralmente
conhecidas com “Pyrrhiche”, dança pírrica. Essas danças marciais são parte da
vase da educação militar tanto em Atenas quanto em Esparta, acompanhadas pelo
som de uma flauta.
Os
quatro movimentos eram: o Podismo, que é
a tomada de um movimento rápido, como os necessários para ultrapassar o inimigo
(ou para fugir dele); o Xiphismo, ou luta simulada; o Kosmos, com saltos muito
altos ou o treinamento para saltos sobre valas ou de muros; e o Teatracomos,uma
figura quadrada com traçados lentos e majestosos. (L. Grove)
Há algumas danças armadas variantes e de diferentes
origens:
·
Em Athenas, durante o festival das Panathenaias, havia concursos de dança.
As danças eram associadas à Athena, que era considerada sua inventora.
·
De acordo com a mitologia cretense, os Kouretes protegiam Zeus quando
criança de Kronos fazendo barulho com seus escudos e eram considerados os
inventores das danças armadas. Em Creta havia uma dança com espadas associada
aos Kouretes.
·
Na Eubeia havia uma dança militar em honra de Ártemis Amarysia (Ártemis
de Amarynthus).
Uma outra possibilidade
mitológica para a origem do nome: Pyrrus (também conhecida como Neoptolemo, um
filho de Aquiles). Outras prováveis variações para a dança: Prylis (πρύλις), Telesias (τελεσιάς),...
Existem algumas versões de danças solo, ou individuais, que são chamadas
monomachia ou skiamachia, como as lutas aos inimigos imaginários (que poderia ser
descrito como as ações de um pugilhista). As roupas dos dançarinos geralmente
descritas são de um colorido vermelho, ou tendo pontos vermelhos, simulando
manchas de sangue, como provavelmente os espartanos utilizavam para fazer a
dança mais “realista”. Isso pode ser explicado também por um outro nome dessa
dança, “dança vermelha”.
Algumas danças:
Gymnopaedia (Γυμνοαιδά) era a
principal dança dos lacedemonianos, realizada anualmente na ágora de Esparta. “Sob
o nome de ‘anaple’ garotos nus, moviam-se graciosamente ao som da música de
liras, exibindo posturas e movimentos usados na luta e no boxe”(Elisabeth A.
Hanley).
A gymnopaidia mencionada por Pausanias remota a vigésima nona olimpíada dos tempos antigos e aconteciam como muitas outras danças. Os líderes eram chamados de Tireáticos (Thyreaticos), em memória da vitória de Thyrea e trazia uma guirlanda de flores de palmas. Versos acompanhavam a dança.
O mais velho começa:
Nós já fomos jovens e felizes como vós
Valentes, corajosos e ativos também.
O jovem rapaz
responde:
Agora é nossa vez, e vocês verão,
Vós nunca merecestes mais que nós.
Os meninos então
respondem:
Virá o dia em que veremos
Talentos superarem tudo que podeis fazer
Os mythical (os coros)
escritos por Dédalo para Ariadne no canto XVIII da Ilíada (v.590) ainda
permanecem como um mistério e um termo ambíguo a preocupar os acadêmicos. Ele
pode significar a dança coral ou o lugar mágico onde a dança é realizada, ou seja,
a “pista” onde se dança. Os antigos pesquisadores interpretaram o coro como um
lugar (topos), completo com colunas e estátuas organizadas em círculos.
Recentemente descobriram uma estrutura circular em Cnossos que eram de alguma
forma relacionada aos coros de Dédalo. Nos textos primitivos, o coro denotava a
dança sem a indicação de uma “pista”. A dança existiu por si e permaneceu como
um fenômeno temporal. O significado da palavra continua em um lugar enigimático e sua importância
reside na sua ambiguidade. (Omur Harmansah, “A Idade Arcaica e a Metamorfose da
Cultura Grega”.)
Plasma
um recinto de dança ainda o fabro de membros robustos
mui
semelhante ao que Dédalo em Cnossos de vastas campinas
fez
em louvor de Ariadne formosa de tranças venustas.
Nesse
recinto mancebos e virgens de dote copioso
alegremente
dançavam seguras as mãos pelos punhos.
Elas
traziam vestidos de linho; os rapazes com túnicas
mui
bem tecidas folgavam em óleo brilhante embebidas.
Belas
grinaldas as fontes das virgens enfeitam; os moços
de
ouro as espadas ostentam pendentes de bálteos de prata.
Ora
eles todos à volta giravam com pés agilíssimos
tal
como a roda do oleiro quando este sentado a experimenta
dando-lhe
impulso com as mãos para ver se se move a contento
ora
correndo formavam fileiras e a par se meneavam.
Muitas
pessoas à volta o bailado admirável contemplam
alegremente.
Cantava entre todos o aedo divino
ao
som da cítara ao tempo em que dois saltadores a um tempo
cabriolavam
seguindo o compasso no meio da turba.
(Ilíada, Livro XVIII, 590-607 – Tradução de
Carlos Alberto Nunes)
Geranos (Γέρανος) ou dança da içagem era feita
em Delos. De acordo com Plutarco, Teseu depois de ter matado o Minotauro no
Labirinto de Cnossos, no seu caminho de volta para Athenas, parou em Delos,
onde ofereceu um sacrifício para Afrodite e dançou em volta do altar. Essa
dança incluía movimentos serpentinos, imitando os movimentos de Theseu dentro
do labirinto – essa mesma dança é mencionada por Homero na Ilíada. Alguns
experts dizem que Teseu dançou o geranos em Creta e não em Delos.
Ierakio (Ιερακειο): uma dança feminina
realizada em honra da deusa Hera.
Epilinios (Επιλήνιος): uma dança dionisíaca realiza
no topo dos tonéis de vinho enquanto pisavam as uvas com seus pés.
Emelia, ou Emmeleia, (Εμμέλεια): uma dança trágica, melhorando os eventos
encenados no palco.
Kordax, ou Cordax (Κόραξ) era a dança da comédia, era mal vista e geralmente
considerada indigna para um homem sério.
Sikkinis (Σίκκνις)
era a dança das peças satíricas, initando movimento de gatos e performada por sátiros.
Imeneos, ou Himenaios (Υμέναιος): dança do casamento. Era feita pela noiva com
sua mãe e amigos. Era realizada com movimentos rápidos e muitas voltas e
reviravoltas.
Hormos (Ορμος ή Αλυσίδα):
de acordo com Luciano era uma dança comum aos homens e mulheres jovens que
dançavam uns com os outros formando uma espécie de corrente. O líder era um
moço jovem que mostrava suas habilidades de dança e marciais através dos movimentos.
Uma moça jovem o seguia, dando um exemplo de solenidade e decência às demais
mulheres. É considerada uma invenção de Licurgo.
Imporchina ou Hyporcheme (Υπόρχημα): uma combinação de dança e pantomima, canto e
música de Creta. Meninos e meninas dançavam juntos cantando poemas em coro. Também
era vista em Esparta.
Bibasis, uma dança
espartana. “Consistia em saltar rapidamente do chão e erguendo os pés para trás
(...). O número de movimentos e golpes bem sucedidos eram contabilizados e o
rapaz mais habilidoso recebia algum prêmio. Nos é contado em um verso de Polux
(v.102) que uma garota laconiana tinha dançado o bibasis mais de mil vezes, que
havia sido mais do que qualquer um já houvesse feito antes”. (William Smith, A
Dictionary of Greek and Roman Antiquities, 1875).
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Gostou do tema? Quer saber mais sobre dança no mundo grego? Leia os texto da Alexandra Nikasios: A dança como ritual: Parte I e Parte II
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Gostou do tema? Quer saber mais sobre dança no mundo grego? Leia os texto da Alexandra Nikasios: A dança como ritual: Parte I e Parte II
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