quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Anthesteria para almas solitárias


Texto escrito pelo Sannion
Tradução de Thiago Oliveira (Petraios)

Um dos fatos tristes que a maioria de nós como helênicos modernos temos a resolver é o caráter solitário do nosso culto. Temos sorte se há um outro helenista em nosso estado, e mesmo que esse seja o caso, isso não é nenhuma garantia de que seremos capazes de participar de um culto comunitário. Além disso, eles podem estar muito longe para poder se encontrarem regularmente, ou mesmo se moram perto um do outro, isso também não significa que eles vão adorar os mesmos deuses, ou fazê-lo da mesma maneira já que o Hellenismos abrange uma amplo espectro de práticas pessoais. Ler os relatos de culto como eram feitos antigamente, com rituais luxuosos e procissões incluindo centenas de pessoas pode parecer desanimador, mas, de toda maneira, não ter com quem celebrar não deve ser a razão para você deixar de realizar qualquer coisa. Afinal, a verdadeira adoração é realizada no coração - e para isso você só precisa de si mesmo e dos deuses.

A Anthesteria é um dos meus festivais dionisíacos preferidos, e eu gostaria de encorajar mais pessoas a comemorá-lo. Para tal, compilei informações sobre como o festival pode ser realizado, seja individualmente, seja em pequenos grupos. A maioria das sugestões que se seguem consistem em atividades devocionais pequenas que podem ser realizadas durante os três dias do festival. Se você está procurando um simples preenchimento de espaços em branco,um modelo de ritual para ser realizado em 20 minutos numa única noite, temo que esteja no lugar errado. Não acredito que esse tipo de coisa faça bem a um festival em circunstâncias normais e que, no caso especial da Anthesteria, que isso sustente a natureza dupla do festival. Cada um dos dias de Anthesteria é único e possui uma poderosa linguagem poética própria. Amontoá-los borra seu significado e tira do festival o seu poder característico.

Então, vamos começar com algumas informações contextuais.

A Anthesteria era um dos mais importantes dos festivais áticos dedicados a Dioniso e emprestou seu nome ao mês de anthesterion. É um dos festivais áticos mais antigos, e era comum a todos os jônicos como nos informa Tucídides  (2,15). A Anthesteria tem seu nome derivado da palavra grega “anthes”, que significa "desabrochamento" ou "florescimento" e, portanto, é um festival de novos começos, de renascimento e da vegetação. Era um momento em que o impulso de vida  mexia em toda a natureza, quando os botões maduros começavam a se desdobrar no ramo e os brotos emergiam da terra estéril após os meses longos e frios de inverno. Mas não há vida sem morte. A terra de onde surgem as plantas é alimentada pelos corpos colocados nela; as almas dos mortos habitam sob a terra, sedentas e amarguradas  pela sua perda. As passagens pela qual a vida flui para o nosso mundo, uma vez abertas, poderiam permitir também que outras que coisas para escapassem - e era o que acontecia.

Esse é um festival marcado por estranhezas, uma das muitas camadas conflitantes que fluem entre os mundos. É um momento de alegria, quando celebramos a vida triunfante e abrimos os barris com vinho novo, e deixamos que as crianças provem pela primeira vez da safra;, mas também é um momento de tristeza e de poluição, quando os mortos trilham pelos caminhos cheios de sol do mundo de cima e coisas estranhas e incomuns acontecem. Unindo estes dois polos, vida e morte, que são apenas dois lados da mesma moeda, há também um fluxo de sensualidade, o sexo como uma força primal, libertadora de uma só vez da afirmação final de existência animal e o mais próximo que podemos chegar à obliteração enquanto ainda respiramos. Neste festival único reside a essência dos mistérios de Dioniso.

Segundo Apolodoro de Atenas, o festival de Anthesteria consistia de três partes: Pithoigia "abertura dos jarros de vinho", Khoes "Cântaros", e Khutroi ou "panelas". (Scholia para Acharnians Aristófanes 961)

De Phanodemus (citado por Ateneus na obra Deipnosophistae '11.465a), aprendemos que, 
No templo de Dioniso Lenaios ("do Pântano "), os atenienses levavam o vinho novo dos potes e o misturavam em honra do deus e em seguida bebiam. Devido a esse costume, Dioniso é chamada Lenaios, porque o vinho foi misturado com água e, em seguida, pela primeira vez foi bebido diluído".

Para celebrar este dia do festival, você deve criar uma imagem de Dioniso. Essa imagem geralmente o apresenta mascarado e coberto com hera ou folhas de parreira, como podemos ver a partir de representações do festival em vasos de beber. Se você não tem uma imagem, pode imprimir de alguma página da internet e emoldurá-la, ou então usar sua criatividade e fazer uma você mesmo. A vegetação pode ser colhida naturalmente ou você pode usar o material plástico encontrado em lojas de artesanato (NT.: no caso de nós brasileiros, por exemplo, onde nem sempre é possível encontrar folhas de parreira, dependendo da região). Particularmente, sinto que o natural seria melhor, mas você pode não ter acesso a ela onde vive, e o material plástico também funciona. Decore o altar com todos os tipos de vegetação e frutas (especialmente uvas, romãs, figos, e qualquer produto da estação da região onde você mora), uma vez que estamos honrando Dioniso como a personificação da força da vida. Você também pode comprar flores para colocar sobre o altar, ou trançar uma coroa de flores silvestres para guirlanda com sua imagem.
Representação da abertura dos jarros e mistura do vinho no primeiro dia da Anthesteria

Em seguida deixe uma tigela em frente da imagem – é nela onde você verterá as libações - e os itens rituais que você utilizará, como velas ou queimadores de incenso, etc. Você também pode ter uma outra tigela de água fresca para misturar com o vinho , já que este era parte do ritual na antiguidade. Nem todo mundo gosta de seu vinho misturado, em todo caso parece que o próprio Dioniso não se importa com o jeito como você o prefere. Você vai precisar adquirir lotes de vinho. O ideal seria um vinho da sua região, mas isso não é necessário. Esse vinho também deve ser de uma safra relativamente recente, já que estamos comemorando a degustação do vinho novo. Eu prefiro vinhos tintos para todas as minhas festas dionisíacas, mas se você gosta de brancos também é válido. Você também pode optar por usar os vinhos mais doces, como o Mavrodaphne grego, ou até mesmo um porto ou vinho de sobremesa.

Você poderá optar por seguir a estrutura padrão do ritual helênico, ou você pode simplesmente fazer um rito informal, de criação própria. No entanto, importante é que você deve convidar o deus para estar presente, uma vez que o objetivo desta parte do festival é abrir o vinho na frente d’Ele, e nunca é demais recitar poesia ou hinos apropriados para a ocasião.

Feito isso, abra o vinho e despeje uma quantidade grande na tigela. Então, se você beber o vinho com água pode misturá-los. Em seguida podes fazer uma prece a Dioniso Soter (Salvador), já que foi Ele quem institui o costume da mistura para livrar os homens da loucura. Em seguida você pode tomar um gole do vinho. Então, agradeça ao deus pela sua dádiva à humanidade, pelo vinho como uma afirmação de bondade e generosas recompensas. Passe o resto da noite na companhia d’Ele, bebendo e comemorando. Toque as músicas que você achar mais adequado ao deus. Este também seria um bom momento para dançar ou cantar para Ele, especialmente se isso é algo que você normalmente não se sente confortável fazendo. Você também pode contar piadas e outros jogos descontraídos. Seja lá o que você fizer esta noite, esteja ciente de fazê-lo na presença de Dioniso. Medite sobre a imagem d’Ele, sobre quem Ele é, o que Ele fez por você no último ano. Pense sobre o que significa vinho, sobre a vida e a abundância da natureza. Realmente tentar sentir o deus em torno de você e responder a ele na alegria e amizade. Feche o ritual da maneira que você achar mais apropriada, ou apenas diga boa-noite e aproveite a bebedeira.

O segundo dia de Anthesteria é o Khoes ou "Cântaros". A parte principal desta parte do festival era celebrada no santuário de Dioniso nos pântanos também, embora derramado sobre a cidade e houve numerosas revela privadas naquela noite.

Certos rituais especiais eram realizadas em segredo por um colégio de sacerdotisas, o “Geriai”, e, embora tenhamos alguma ideia do que acontecia ali, até mesmo do juramento que era prestado, boa parte das informações sobre esta parte do ritual ainda permanecem obscuras.  Aparentemente, ele envolvia  um hierogamos entre a Basilenna (rainha) ou esposa dos Arkhon  Basileus (Sacerdote Rei) que era vista como representando a terra da Ática e era casada com Dioniso no Boukoleion, o estábulo. Tem havido alguma especulação sobre como este rito foi realizado. Alguns especulam que a parte de Dioniso era realizada pelo Arkhon Basileus ou um sacerdote de Dioniso, que poderia apenas representa-lo, ou poderia realmente ter sido possuído pelo deus de uma forma similar às lwas, as "mulas" das religiões afrocaribenhas. Outros especulam que um ídolo fálico do deus era usado, ou que o deus possuía a Basilenna e eles se envolviam em algum tipo de sexo espiritual. Outros ainda postulam que o acasalamento era apenas simbólico ou metafórico, mas isso é duvidoso considerando a os termos usados por Aristóteles em sua discussão sobre o ritual em “Constituição dos Atenienses” 3,5; pare ele há um contexto muito carnal no ritual.

Enquanto a basilenna estava sendo casada com Dioniso, uma grande celebração irreverente acontecia em toda a cidade. Aristófanes nos diz no Acharnianas, uma peça cujo tema é a celebração rural do dia de Khoes, que as canções fálicas grosseiras eram entoadas na ocasião, bolos em forma de pênis eram comidos e também que prostitutas estavam presentes. Há cântaros feitos para a celebração que mostram matronas escapando na companhia de Sátiros e pessoas celebrando orgias a luz de tochas (no aspecto lúgubre da palavra).

Apesar de toda essa indecência que acontecia, uma observância pouco mais contida também acontecia.

Phanodemus (Ateneu 10.437 frag. c-d) informa-nos desta parte do Khoes e as origens alegadas ao festival.

"Demofonte o Rei instituiu a festa dos cântaros em Atenas. Quando Orestes chegou em Atenas, após assassinar sua mãe, Demofonte queria recebê-lo, mas não estava disposto a deixá-lo se aproximar dos ritos sagrados nem compartilhar as libações, já que ele ainda não havia sido levado a julgamento. Então ele ordenou que as coisas sagradas fossem trancadas e um jarro de vinho separado para ser colocado ao lado de cada pessoa, dizendo que um bolo seria dado como prêmio para aquele que esvaziasse o pote primeiro. Também ordenou que, quando eles parassem de beber, que não colocassem as guirlanda com que seriam coroados junto aos objetos sagrados, já que tinham estado sob o mesmo teto que Orestes. Ao contrário, cada um enrolaria um barbante no seu próprio cântaro e apanhariam  a guirlanda com a sacerdotisa no precinto no Limnaion, e então performariam o resto do sacrifício no santuário. O festival tem sido chamado desde então de Khoes”.

Assim, para esta parte do festival, você deve cobrir quaisquer santuários ou altares que você tiver para outros deuses, para que eles não sejam corrompidos pelo miasma do dia. Simples peças de pano branco ou pretos, ou até mesmo xales são suficientes. Se possível, realize o  ritual fora do espaço  habitual em que outros festivais e rituais são realizados. Se possível, faça uma guirlanda de flores, cipós ou algo igualmente apropriado. Este é um caso em que os plásticos das lojas de artesanato realmente viriam a calhar. Você pode optar por usar a guirlanda durante o ritual ou amarrá-la em torno do jarro ou garrafa de vinho. Uma boa maneira de acentuar a solenidade e anormalidade do dia é falar o menos possível. Obviamente, se você trabalha em um lugar onde você tem que interagir com os clientes isso pode não ser possível, mas do contrário, tente conter-se e permanecer em silêncio, tanto quanto você puder. Mais tarde, quando você executar o ritual, faça-o em silêncio total. Vá ao altar, acenda o incenso, verta as libações, cumprimente o deus - tudo sem dizer uma única palavra. Acredite em mim, esta é uma experiência estranha e que irá desencadear em sua mente a consciência de que algo estranho está acontecendo. (N. T.: Esse é um dia onde as crianças são apresentadas à comunidade e recebem o seu primeiro khous  - uma coisa a ser feita é oferecer suco de uva ou mesmo vinho para as crianças da sua família ou oferecer presentes a elas).

Jarra ática mostrando crianças imitando os adultos nos rituais do dia de Khoés. 


Durante todo o dia pense em coisas tristes e deprimentes, especialmente aqueles relacionadas com a morte e o assassinato. Então, durante o ritual, separe vários copos de vinho (uma para si, uma para Orestes, e outra para o povo de Atenas). Beba seu vinho em silêncio. Você pode optar por fazer um jogo e desafiar-se para terminar o vidro em um único gole ou para beber uma quantidade X de vinho durante a noite.

Quando essa parte do ritual terminar, sente-se por um tempo em frente da imagem de Dioniso. Imagine em sua mente o deus aproximando de sua cidade, vindo como um estranho no meio da noite. Tudo é envolto em trevas e escuridão - mas aqui está Ele, belo, radiante e cheia de vida vibrante, o rei da videira, o touro poderoso, aquele que intoxica o mundo. Visualize-lo de entrar no estábulo e lançando-se sobre a Basilenna e suas damas de companhia. Seus olhos com medo e ainda cheia de desejo por Ele. Senta sua alegria quando Ele a conduz, como sua presença desperta o calor no teu corpo e na terra. E solte um grito exultante, saudando Dioniso, o deus que vem!

Neste momento, você pode começar a falar de novo. Você pode recitar poesia ou cantar para ele. Também pode dançar e realizar um culto mais alegre e em êxtase para o deus. Se você tem um parceiro, agora seria um momento maravilhoso para fazer amor, sentindo a presença do efeito de deus envolvendo vocês. Mesmo se você está sozinho você pode optar por experimentar a felicidade da liberação sexual. Mas, claro, isso é algo que você TEM QUE FAZER. Algumas pessoas podem se sentir desconfortáveis misturando o sexo e deuses, e isso é perfeitamente normal – e compreensível. (Não é uma atitude que eu particularmente entenda, mas Dioniso teria cada adora Dioniso à sua própria maneira, e como diz Tirésias em As Bacantes, de Eurípides, uma donzela casta passará mal nenhum nos ritos de Dioniso.)

Depois que tudo estiver terminado, você pode optar por fazer sua guirlanda e deixá-lo em algum lugar lá fora. O melhor lugar para deixá-lo, é claro, seria em um pântanos ou na margem de um rio ou lago. Mas se tais lugares não estão disponíveis para você, encontrar um lugar desolado ou estranho a sair. Você pode optar por não descartá-lo se a sua não-biodegradável, mas você deve mantê-lo em algum lugar onde ele não vai entrar em contacto com os seus outros artigos religiosos.

O último dia do Anthesteria é Khutroi, as “Panelas". Enquanto Pithoigia é um dia de exuberância total, e Khoes uma mistura de alegria e melancolia, Khutroi é dado inteiramente à solenidade e estranhamento, pois é neste dia que os mortos caminham sobre a terra.

Durante Khutroi não vemos o rosto de Dioniso como o deus da luz e da vida; aqui Ele é totalmente o deus do submundo escuro, o senhor das almas, o filho de Perséfone e o companheiro do Hermes ctonio. Nós mal o vemos durante todo neste dia. Na verdade, toda a atividade ritual de Khutroi é consagrado a seu irmão.

Theopompos, no escólio às Acharnianas1076, de Aristófanes, descreve Khutroi da seguinte forma:

"Aqueles que sobreviveram ao grande dilúvio de Deucalião, cozinharam potes com todo tipo de semente, e a partir disso, o festival recebe seu nome. É o costume sacrificar a Hermes Khthonios. Ninguém prova o pote. Os sobreviventes fizeram isso propiciando-o a Hermes em nome daqueles que morreram".

De acordo com Photius era neste dia que as Keres, ou espíritos dos mortos, caminhavam sobre a terra; elas tinham que ser expulsos com a exclamação ritual, "Para as portas, vós Keres, não é mais Anthesteria!" Photius também nos informa que em Athenas, as pessoas mascavam espinheiro (N.T.: Rhamnus sp) e marcavam suas portas com piche para afastar os mortos.
Reprodução de um píthos ático mostrando Hermes a conduzir as Keres para longe.¹


O santuário ou altares permanecem fechados, já que os templos em Atenas permaneciam fechados neste dia. Passe o dia pensando sobre seus entes falecidos e diga-lhes qualquer coisa que você deseje dizer ou que você gostaria de ter dito enquanto eles estavam vivos. Prepare uma refeição para eles. A refeição mais adequada seria, evidentemente, a panspermia, que é uma mistura de feijão, grãos e sementes. Para algumas pessoas isso é feito acrescentando-se o óleo, o mel e o leite, uma vez que estas eram as libações tradicionalmente feitas aos mortos; esses ingredientes também enchem a cozinha com um aroma forte e inquietante. Se você não tem acesso a isso, você poderia oferecer-lhes um prato de ovos, cebolas, alho, sementes de romã, e peixe ou carne de porco, uma vez que estes foram os alimentos que muitas vezes eram ofertados aos mortos ou àqueles considerados impuros. Você também pode montar um menu próprio para os seus mortos (N.T.: talvez com comidas que os seus entes queridos que já se foram gostassem de comer). Mas seja lá o que você escolher para cozinhar e oferecer ao morto, isso não pode ter gosto de nada, uma vez que este é o alimento dos mortos, e se você comer em breve poderá juntar-se a eles. Deixe sua oferta do lado de fora da casa e faça uma prece a Hermes enquanto estiver ofertando. Mais tarde, expulse os espíritos das keres,  purifique sua casa e todos os lugares. Só depois de terminado isso você poderá descobrir os altares ou santuários.

Há outra prática que é ligada à Anthesteria, embora a data em que foi realizada seja contestada. De acordo com a história, quando Dioniso veio para a Ática para compartilhar do vinho com as pessoas, de lá ele foi mostrado hospitalidade por um bondoso agricultor chamado Icário. Em troca, Dioniso lhe deu a videira, e lhe ensinou a fazer o vinho. As primeiras pessoas que compartilharam a dádiva do deus com Icário ficaram bêbadas e suas famílias pensaram que eles tivessem sido envenenados. Então, mataram Icário e jogaram o corpo do agricultor em um poço. Quando Erígone, a filha de Icário, chegou e viu o corpo do pai, foi abatida por uma dor e enforcou-se. Como punição por seu crime (e porque Dioniso havia se encantado de Erígone), Dioniso amaldiçoou a terra da Ática com esterilidade e infligiu uma praga de loucura às suas filhas para que se enforcassem. As pessoas procuraram ajuda do Oráculo de Delfos, e Apolo informou que era necessário que eles necessário que prestassem respeito para Erígone e seu pai. Então, os habitantes da Ática deram a Erígone e seu pai o enterro apropriado e instituiram o festival de Aiora em sua honra. Em troca, Dioniso fez com que o suicídio das meninas parasse e devolveu a fertilidade da terra. Durante a Aiora, as meninas jovens penduravam fitas, copos pequenos, e bonecas nos galhos de árvores e deixavam-se ser empurradas em um balanço. (N.T.: Alguns textos e a iconografia mostram que o balançar poderia ser feito sobre um jarro de vinho aberto). Alguns sustentam que esta ocorreu em Khoes, outros em Khutroi, mas a maneira que eu vejo, isso encaixa-se em qualquer um dos dias, e o tema desse mito e ritual se encaixam muito bem no contexto da Anthesteria.

Sátiro balançando Erígone - vaso ático século V AEC.

Seja qual noite for, você pode escolher para fazer isso, você pode ir a um parque [ou mesmo na sua casa, caso tenha árvores] e pendurar coisas nas árvores. (A novidade do ambiente e do perigo de ser pego só vai aumentar a experiência para você.) Além das fitas, copos e bonecas, você pode sempre usar sinos ou tiras de papel com o nome Erígone escrito neles, ou qualquer coisa nessa linha. Em seguida, vá para o playground e balance para Erígone, pensando durante este tempo todo sobre a sua história e os mistérios escondidos nela.

Com isso, eu trago a minha forma particular de celebrar a Anthesteria. Espero que tenha ajudado, lhe dado alguma ideia das coisas que você pode fazer, e gostaria de incentivá-lo a ir além, com próprias ideias inspiradas nos temas do festival.

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Nota:
Apesar das ações relacionadas na imagem se referirem mais ao terceiro dia da Anthesteria, segundo Kérenyi, esse pithoi em especial diz respeito ao primeiro dia, da abertura dos jarros).

Para ler o texto em inglês CLIQUE AQUI.
Veja outros exemplos de celebração da Anthesteria no RHB, pela Sarah Helena e por mim mesmo.
Para se aprofundar mais no assunto recomendamos que os interessados leiam o livro Dioniso: imagem arquetípica da vida indestrutível (Carl Kérenyi, publicado no Brasil pela editora Odysseus [2002] com tradução de Ordep Trindade Serra).

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