sábado, 18 de abril de 2009

He Thusía - Dos Sacrifícios


Os sacrifícios eram práticas comuns na religiosidade grega antiga, sendo considerados a maior provade devoção para com os deuses, posto que nele ofertava-se o mais caro (no sentido de valioso, não de alto preço, econômico) ao mais caro.
Além dos sacrifícios de sangue, ainda haviam as ofertas e primícias , que também enquadravam-se como parte inerente ao ritual de sacrifícios ( He Thusía).

Hoje, o sacrifício de sangue é visto com certa estranhesa por muitos, reconstrucionistas ou não. Já mesmo na Antiguidade haviam correntes de pensamento que não concordavam com as práticas. Ainda hoje, talvez o maior problema ao considerarmos o rito sangrento seja a lógica inerente ao pensamento. Somos educados em um meio permeado por uma moral judáico-cristã que, apesar de exigir a fidelidade para com o "deus", não tem fins que não aqueles muitas vezes comerciais, disvirtuando a imagem da instituição religiosa.
É inegável que na Antiguidade grega os sacrifícios de sangue eram uma realidade comum e inerente aos festivais em honra aos deuses e ancestrais, assim também como em outras civilizações, próximas ou não. A cada deus eram sacrificados determinados animais que se Lhes condizia, bem como o aspceto físico propriamente dito do animal, mudava de acordo com o aspceto do deus a quem se iria sacrificar. Por exemplo: cavalos eram sacrificados a Posídon, touros a Zeus , Posidon e Hades; Deméter era honrada com porcos, e Dioniso com cabras. Em geral os animais de cor clara eram ofertados aos deuses olímpicos, e os de cor escura aos deuses ctônicos. Da mesma forma que se podia ofertar animais, os sacrifícios de sangue, haviam momentos em que não se poderia ofertar. A exemplo disso, há relatos de que na entrada do Templo de Atena no Partenon , havia um altar a Zeus onde não se poderia ofertar sangue nem vinho; apenas bolos e leite. Ao inverso disso, alguns festivais também promoviam o sacirfício de seres humanos, principalmente na antiguidade.
Na epopéia homérica a imagem de Ifigênia é latente quando se fala em sacrifícios humanos. Ela, a mais bela cria da estação, deveria ser sacrificada a Ártemis , em desculpa por uma corça que havia sido matada no bosque sagrado da deusa, e em vista disso, Ártemis não deixava que o tempo permitisse a saída dos barcos gregos rumo à Tróia. Pouco antes do sacrifício, Ártemis "raptou" a menina para junto de si, e em seu lugar depositou uma corça, a fim de substitui-la. Esse é um relato clássico a ligar a imagem da Ártemis aos sacrífícios humanos. Porém, é preciso lembrar que , apesar de haverem festivais e ritos em que o sacrifício humano era comum, ele dependia muito mais do momento histórico propriamente dito. Em momentos em que a pólis era atingida por grandes catástrofes, guerras, pestes ou secas , toda a comunidade reunia-se a fim de fazer preces aos deuses e ofertar-Lhes o mais valioso bem que eles tinham, em geral um membro valoroso da comunidade, como se pode ver no mito de Andrômeda.
Em Mélite, subúrbio ocidental de Atenas, o templo de Ártemis Aristoboulé ficava no local onde eram lançados os suplicantes e as cordas usadas pelos suicidas (Plutarco). Também em Rodes, Aristouboulé era cultuada extra murus, e na festa chamada Cronia, em Sua honra, e diante de sua estátua , matava-se um criminso sentenciado.
Porém Ártemis não é a única divindade que tem seu culto ligado ao sacrificio humano. Marcel Dietienne relata em Dioniso a Céu Aberto que em certa ilha perto de Delfos, na antiguidade, havia um festival dionisíaco exclusivo de mulheres. Nesse festival , o telhado de cobre do templo era retirado ao nascer do sol e as mulheres haveria de reconstruí-lo até o fim da tarte, antes do pôr-do-sol. Caso alguma mulher caísse lá das alturas, as outras atiravam-se sobre ela, para devorá-la com os dentes, ainda viva. Semelhante fato ocorria em sacrifícios de touro, em honra ao Dioniso, nesse caso, o próprio deus assumia o lugar do touro, simbolicamente, sendo assim chamado Taûros.

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