sexta-feira, 17 de abril de 2009

Considerações sobre o calendário Délfico

Calendário délfico era baseado no ano de Sírius, ou seja, iniciava-se no primeiro dia do levante prístimo dessa estrela, assim como o faziam também os egípcios. Evidenciam-no não apenas uma enumeração dos meses, amostrar que o ano começava no verão, mas também o mito da chegada anual de Apolo no primeiro mês, o seu Apellaîos, cujo começo ocorria na altura do nosso julho. O mito de Apolo dá indicação de um estado de coisas mais antigo, um estado efetivamente pré-histórico (do ponto de vista do que agora sabemos sobre Delfos) em que o advento sucedia apenas no segundo ano após o natal do deus. Paradoxalmente, Ele inaugurava sua epidemia com um ano de ausência. A explicação do motivo por que podia imputar-se a Apolo um procedimento tão extravagante deve buscar-se , com toda a certeza, na trieteris que vigorava em Delfos num período anterior, e que continuou a valar no tocante a Dioniso.
A trieteris se refere a uma forma especial de calendário, oriundo dos cultos de Dioniso. A uma trieteris correspondia o período de dois anos. Período no qual eram celebrados os três maiores e mais importantes festivais em honra ao deus: a Lenéia, a Anhestéria e o Grande Dionísia.
Desde quando o mesmo sistema de anos intercalares era adotado em Delfos e em Atenas, pode-se supor que o calendário délfico mais antigo tenha sido adaptado ao calendário ateniense de um ano. A partir de então, a chegada de Apolo em Delfos começou a ser celebrada anualmente.
Na forma em que o conhecemos, o calendário délfico não é o mesmo que correspondia ao mito original de Delfos. Sem dúvida, sua conversão ao circuito de um ano (correspondente ao circuito do Sol e das estações) foi uma mudança determinada pelo reinado de Apolo: este, mais do que qualquer outro dos grandes deuses, foi identificado com o sol. Em Delfos, todavia, o novo cômputo encontrou em vigor um calenário bienal, baseado no mito de Dioniso, e adaptou-se-lhe, por um certo tempo, o que se pode inferir com certeza do mito da chegada de Apolo ao fim de dois anos.

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