segunda-feira, 15 de junho de 2009

Clareando as Idéias

,Verdade seja dita, muito pouco sabemos sobre a religião grega em si. Em meio a tantas fontes, que se dizem sempre e sempre reais e confiáveis, o que não deve na maior parte das vezes ser considerado. Mesmo que o autor seja reconhecido e confiável, já que o tempo pode fazer com que as opiniões do autor fiquem ultrapassadas face às novas descobertas e interpretações do mito e do culto gregos. Poucos foram os volumes lançados sobre o que teria sido a religião grega. E fazendo um levantamento geral de toda a questão posso concluir que hoje, aquele que tem acesso a bons autores e fontes idôneas de informação conhece muito mais sobre os aspectos, à luz dos gregos, secundários da religião, do que sobre o culto em si, e sobre as posturas e condutas sugeridas por estas.
Dispondo-se a um exame mais atento das obras publicadas até hoje, podemos concluir que muito se falou sobre os mistérios, sobre as doutrinas de reencarnação e do post-mortem, enfim... mas o ideal inspirado pela religião grega tem sido deixado de lado. E todo crítico “prudente” pune vigoroso aquele que tenta aproximar-se do objeto de estudo (que no nosso caso, sai do estudo e passa a ser experiência) com uma séria indagação, a exemplo da que fez Bernard Wyss, no epílogo da Epifania ( Walter F. Otto, Ed. Odysseus, 2006) ao indagar “mas ele [Walter Otto] acreditava mesmo nesses deuses ? “, de modo como se isso fosse algo impossível, o que é totalmente contestado pelo autor, que em si, continha o espírito de devoção semelhante àquele cultivado pelos gregos antigos, e justamente por essa proximidade, ele como poucos, pôde instruir a respeito da religião grega em si, e valorizar o mito como instrumento não apenas literário, mas sim informativo.
Cabe porém observar que nem todo mito tem um fundamento religioso. É uma idéia corrente que o mito é uma explicação do rito, surgindo posterior. Porém, as pesquisas antropológicas e filológicas cada vez mais indicam para uma relação mútua entre esses. O mito não é uma narrativa de algo que já sucedeu-se; O MITO É. É o fato presente, posto que é o testemunho da presença divina latente em tudo que há no mundo. Posto que Eles são o mundo. Não se trata aqui de personificações, ante o contrário, pois os deuses são os elementos iniciais, são as formas que moldaram no homem os conceitos que ele manipula, desde o físico ao metafísico.
O leitor atento da literatura antiga, certamente irá deparar-se com situações delicadas aos nossos olhos e conclamá-las como absurdas, a exemplo de Helena culpando Afrodite pela sua paixão... acusará de desrespeito e blasfêmia certamente, mas aos olhos do grego não é isso que acontece. O sentimento de proximidade do gregos para com seus deuses é tão profundo e latente que os deuses são a fonte original de todo agir. Eles não só nos aconselham a respeito do proceder, como também fazem parte desse movimento. Eles sempre estão por perto, para nos apoiar ou nos corrigir, sendo forças impulsivas e destruidoras simultaneamente.
Quando ouvimos a bacante dizer sentir-se invadida pelo gozo de Dioniso, não é ao sexo expresso na figura do deus que ela refere-se propriamente, mas sim à divina manifestação da vida expressa pela presença do deus. Os deuses gregos não são arquétipos, figuras mitológicas tampouco imaginárias, mas sim realidades concretas.
Outra questão que deve ser levantada é a postura dos adeptos. Não é de se admirar que maior parte dos “politeístas helênicos” de fato não o seja, ao menos não dentro do contexto reconstrucionista. Ligados às práticas mágicas, e a livres-interpretações acerca da “essência” dos deuses, eles preocupam-se muito mais com os aspectos secundários do culto, e com questionamentos do que com a experiência e com o de mais importante que o Helenismo tem a contribuir para o homem: uma conduta ética e uma visão vívida do mundo. Um mundo cheio de deuses, como disse certo autor da antiguidade; e mesmo assim os adeptos “exigem provas da presença dos deuses”. Talvez isso se dê por uma questão simples: perde-se muito tempo com falsos intelecualismos do que com a prática. É preciso tentar e errar para assimilar aquilo a que se propõe aprender. É preciso vivenciar a experiência para obter informações e um repertório de contato íntimo com os deuses.
Diferente do conhecimento comum dos neopagãos, a visão reconstrucionista vê que não basta apenas pensamentos, isto porque os deuses per si já estão, sempre estão, em nossos pensamentos, pois, como dito anteriormente, Eles são a essência da ação. Mas isso de forma alguma reprime, ou anula a necessidade da prática devocional, antes a faz mais necessária, posto que é preciso honrar os deuses, de modo que se possa invocar justamente pelo favor dEles quando necessário.

Um comentário:

  1. Gostei muito desse post, foi esclarecedor de todo o modo, porque eu também sinto os deuses próximos dessa maneira mesmo. Esses dias mesmo, ao sonhar com Zeus, eu disse para ele: "Ainda bem que tirou essa buzanfa "véia" do seu trono no Olimpo e veio falar com a reles mortal que tanto pensa que vc está cagando e andando pra ela". Uma amiga pagã minha, riu da situação e ficou até horrorizada, jamais pensou que alguém poderia dirigir tais palavras ao Deus Supremo Zeus e eu disse que me sinto tão a vontade dizendo isso e ele foi se tornando cada vez mais próximo que eu tenho comigo que ele nem se importa com o tom ao qual eu profiro tais palavras, porque conhece perfeitamente o carinho e o respeito que tenho por ele.
    Virei mais vezes aqui... Passe no novo Delfos, se desejar!

    Beijos

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